Meu corpo não é templo,
não é moeda,
Sou mar.
De superfície calma,
mas de correntezas que puxam os alicerces do mundo.
Mar que não se aprisiona em garrafa,
não se dobra a mapas.
Sou maré que vem e se vai
sem pedir licença.
Afogo quem tenta me medir com réguas tortas.
Sou céu.
Imenso, inatingível,
às vezes cinza,
às vezes tempestade,
mas sempre casa de estrelas que ninguém sabe nomear.
Quando me olham, veem a beleza
mas ignoram a vastidão.
Esquecem que trovejo.
Sou universo.
Não de planetas dóceis,
mas de explosões e silêncios eternos.
Constelação de dores milenares,
tecida por ancestrais que também foram chamadas de exageradas.
Em mim: o caos,
e dele, a criação.
Sou a própria vida.
Sangro e germino.
Caio e broto.
Me arrancam as pétalas,
e ainda assim, flor.
Querem que eu me cale,
mas meu silêncio grita poemas
que atravessam as gerações.
Sou as forças da natureza,
não domada,
não submissa.
Não sou pedra,
sou avalanche.
Não sou solo,
sou terremoto.
Não sou sombra,
sou eclipse.
E quem tenta me conter
em moldes estreitos
acaba por sentir
que mulher,
quando desperta,
não cabe em nenhum mundo que não seja reinventado.