Escrevo-te com o corpo todo,
com os ossos gritando teus gestos,
com a boca seca de não-beijo,
com o ventre vazio de tua ausência.
Amo-te em silêncio —
mas é um silêncio que grita,
cortado em carne viva,
escorrido na dobra do tempo
onde não há mais nós.
Tu,
que me leste em entrelinhas desatentas,
que bebeste meus olhos e devolveste sede,
tu não me amas.
E isso é um espelho partido no chão da alma.
Eu —
que te amo na contramão do real,
que faço da tua sombra um altar,
me torno caverna escura e fria, vazia de vida
eco de um afeto que nunca ecoou de volta.
Meu amor,
esse não-teu-amor que em mim pulsa,
é uma febre que não cessa,
que queima e me faz perder pressão,
é fome sem nome,
é o gozo da dor de querer e não ter.
Não me olhas.
E mesmo assim, teus olhos me queimam.
Não me queres.
E mesmo assim, teu desamor me possui.
Ah, se soubesses o peso de um corpo
que espera em vão...
Clarice sussurraria:
“É mais que dor. É matéria viva.”
E Hilda diria:
“Escreva, mesmo com o coração apodrecido.”
Então escrevo,
com os dedos trêmulos de querer,
com os olhos embebidos de ausência,
com a alma esgarçada —
porque ainda te amo,
e isso me mata docemente, todos os dias.
Meu corpo absorve as lembranças de ti.
Minha alma murmura teu nome nas noites iluminadas pela lua.
Ao pisar nas areias da praia, percebo o quão efêmeros somos.
Ainda assim, em meu corpo, tu és tudo — e tudo em mim clama por ti.
Amar não é questão de merecimento;
até porque, talvez, não sejas digno de amor tão imenso.
Mas, mesmo assim, amo-te com a inteireza do meu ser.
Em minha pele, permanecem marcas tuas,
inscritas como se jamais pudessem ser apagadas.
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