Foi numa cidade esquecida pelos mapas, onde o tempo dança mais lento e o vento parece sussurrar segredos antigos aos ouvidos atentos, que duas mulheres se encontraram. Não se procuravam. Não sabiam sequer que precisavam uma da outra. Mas ali, entre palmeiras que se curvavam com graça e um rio que lavava as dores do mundo, o destino, que às vezes sussurra mais do que grita, costurou suas rotas partidas.
Ambas chegaram com o peso do que não foi.
Uma trazia nos olhos um naufrágio: o amor que a abandonou no meio do caminho, deixando-lhe apenas promessas afundadas e noites longas demais. A outra carregava no colo uma filha e no peito o silêncio feroz das mães que precisam ser fortes quando tudo dentro delas está quebrando. Tinham conhecido a separação não só dos homens, mas de si mesmas, dos seus sonhos, da leveza que um dia tiveram.
Não sabiam, mas era o início de uma outra história, de uma história consigo mesmas...
Foi devagar, como são as construções verdadeiras. Primeiro o respeito. Depois os olhares cúmplices. E então as conversas que se estendem madrugada adentro, enquanto o vento balança as janelas e o vinho tinge os lábios de coragem. Contaram-se, sem pressa. As feridas, os medos, os risos que resistiram.
Construíram um ninho com palavras e silêncios.
Brincaram com as palavras como crianças que fazem castelos na areia.
Choraram juntas como mulheres que sabem que não é fraqueza ser vulnerável diante de quem nos entende.
E ali, sob o sol que dourava os ombros e entre mergulhos em águas mornas, algo floresceu.
Começaram a rir de si mesmas. A rir das dores passadas. A rir dos erros cometidos por amor – e também por carência, por esperança, por teimosia. Caminharam descalças por ruas desconhecidas, dançaram em bares vazios, dividiram pratos, contas, segredos, sonhos usados. Falaram do universo de madrugada, deitadas na areia fria, com a pele ainda vestidas de tristezas e os olhos brilhando como constelações perdidas.
E quando pensaram que ali encontrariam a tal felicidade prometida aquela que se imagina nas páginas dos livros ou nos finais dos filmes – descobriram que a vida tinha outros planos.
Veio a dor. Vieram novas partidas. Vieram provas que nenhuma imaginou ter de enfrentar. Mas, juntas, eram mais fortes.
Porque a amizade, quando verdadeira, não exige constância, apenas presença.
E havia nelas esse milagre: estavam. Uma pela outra. Sempre.
Na troca de mensagens rápidas, nos abraços demorados, nos conselhos nem sempre certos, mas sempre sinceros, nas conversas e brincadeiras por reeus nas redes sociais...
Naquela forma de amar que não precisa de promessas, apenas de verdade.
O paraíso não era mais a cidade, nem o rio.
O paraíso era o olhar da outra dizendo: "eu entendo."
Era o riso compartilhado depois de um dia difícil.
Era a garrafa aberta, os pés na areia, o céu como teto e o coração leve por saber que, apesar de tudo, nenhuma estava só.
E assim seguiram.
Entre risos e lágrimas, entre o velho que ficou para trás e o novo que ainda doía para nascer.
Mulheres inteiras não porque estavam completas, mas porque tinham aprendido a se juntar.
E no meio da areia, das biritas, das conversas sobre astros e amores, encontraram algo mais profundo que a felicidade...
Encontraram pertencimento.
É como quem encontra casa depois de muito se perder.
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