domingo, 2 de fevereiro de 2025

Canto da Terra Livre


 

Nas matas densas e no cerrado do meu Norte,

Canta o vento quente, sopra um ode à vida,

Corre os rios em veios vivos pulsando em sua sorte,

Nas correntes e ondas da barcos e canoas coloridas.

Vejo o céu de azul negro brilhante sem fim,

O sol ardendo em chama brava, queimando feito brasa,

A terra dá e acolhe em seus braços, pulsa dentro de mim,

Com sua força acende a mais pura beleza, que não acaba.

Cresce a roça, castanha, açaí, mandioca, mamão, milho e feijão,

Na alegria do sorriso simples e na palma áspera da mão forte,

Cada semente é um descendente de um povo de bom coração,

Cada amanhecer e cada colheita vence a espreita da morte.

O povo negro resiste e persiste em seus quilombos,

Esconde a dor, dança sua fé, fluem e confluem e finca raiz,

Traz no couro dos tambores o peso de seus ombros

O som do ontem e da esperança de um futuro feliz.

Das serras e matas, as aldeias, dançam com o tempo,

Na maloca levam as artes do corpo e um rito antigo,

Cada traço uma tradição e uma história que traduz no jenipapo

O mais belo canto de louvor ao mundo vivo.

Açaizeiros alimentam, fortificam e fazem sombra,

Sobre as redes balançam as boas conversas no quintal,

Das castanheiras ouvimos os mais altos sons que assombram,

Mas, nos ligam ao essencial da viva, totem sagrado e natural.

Lá no chão das matas e florestas densas,

Há choro, sangue, história e suor,

Mas esses povos carregam uma força,

E a mata nunca esquece ou cansa,

Grita em luta contra a dor em um rugido de esperança.

O seringueiro que partiu em busca de algum ganho,

Deixou seus lamentos, sonhos e amores nos barrancos,

E nos troncos e chicote dos engenhos

Ainda ecoam as orações dos povos africanos.

No berço verde, onde o rio é estrada,

Corre a vida em correnteza encantada.

A Amazônia pulsa em narrativas, canto e cor,

Um santuário de fauna, flora e flor.

A cada árvore tombada,

A cada fogo no cerrado,

Há um grito que não cansa,

Há um punho levantado.

Dos seringais à borracha,

Da luta contra a escravidão,

Do Divino à esperança,

De um povo que viva em união.

Lá no quilombo o couro do tambor, traz lembrança de Zumbi,

Na mata, a lança de imburana se ergue,

para lembrar seus filhos, de lutar e prosseguir.

Cada palha, cada folha, cada dança e ritual,

É história que se conta, é caminho espiritual.

E enquanto a lua ilumina as águas do grande rio,

A terra segue seu rumo, e guia seu povo que segue bravio.

Por isso, ergamos as mãos, e firmamos nossos pés no chão,

Pois a floresta é eterna e o Norte é a nossa identidade e nação.

Meu Corpo é Campo de Guerra?

Carrego no peito uma história que queima, não está escrita em livros, mas em olhares aqueles que me despem sem tocar, que julgam se eu cruzo...