sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Limbo


Em um paraíso onde as flores jamais murcham, o sol jamais deixa de brilhar e o céu se estende em cores imortais, encontrei-me perdido. O ar, que antes era doce como o mel, agora me sufoca com seu perfume inebriante, envenenando-me pelas narinas e sangrando meu coração. O som das águas cristalinas que fluem por rios invisíveis, agora me parece um lamento distante e triste. Como Dante, que caminhava entre o Inferno e o Purgatório, eu me vejo preso em um limbo entre o desejo e a desesperança.

Tu, que eras o anjo resplandecente à minha frente, cuja beleza iluminava todo o meu ser, olhavas-me com olhos que não viam o abismo que se formava em meu peito com a tua rejeição. Neste paraíso, onde os corações devem se unir, o meu encontra-se desfeito, dilacerado, num eterno vazio e solitário limbo. O amor que eu sentia por ti era uma chama que queimava com intensidade, mas o teu olhar, indiferente, não alimentava essa paixão, tornando-a uma dor sem fim, uma condenação que não sei de onde veio, nem para onde vai, mas que faz da minha alma prisioneira das lembranças do teu corpo.

Se o Paraíso é um lugar de êxtase, então este se transformou em minha própria tortura, pois cada passo que dou aqui é marcado pela tua ausência. A brisa suave, que acariciava meu rosto, agora me corta como lâminas de gelo, como se quisesse, a cada suspiro, lembrar-me de que meu amor jamais será correspondido. O azul do céu já não tem a mesma cor, pois ele reflete a tristeza que se alojou em minha alma, a as cores da aurora agora só me lembram constantemente a cada findar do dia, que jamais terei suas mãos sobre as minhas e seus lábios sobre os meus.

Oh, amor não correspondido, que me arrastas como um rio impetuoso, e que me afasta de tudo o que um dia foi belo, entrego-me à dor que me consome. Como Virgílio guiando Dante, eu caminho, mas sem esperança de encontrar a salvação, apenas o reconhecimento de que meu coração estará preso nesse paraíso infernal, eternamente. Aqui, a luz que brilha mais forte é a que queima a alma. Cada suspiro meu ecoa como um grito perdido, que se perde no vento, e que apanha das ondas que se chocam sobre as rochas e que não chega a ser ouvido por aqueles que estão distantes das formas da paixão.

E assim, nesse paraíso onde o amor deveria ser puro, vejo-me no mais profundo abismo, onde o tormento de amar sem ser amado é o meu único companheiro, e eu o abraço e o sufoco.

sábado, 21 de dezembro de 2024

Oito dias de silêncio




No primeiro dia, a dor se fez leve, um misto de desespero com medos,medos que eu escolhi ignorar, por amor...
Como a brisa que não sabe onde vai,
O olhar perdido, entre as sombras, breve,
Na esperança de um afago que não cai, de um sim que não vem...

No segundo, o peito aperta, se dissolve,
Como a lua que na nuvem se esconde, como estrelas que estão distantes mas que completam a beleza do ceu 
A palavra não dita já não resolve,
E o amor, em silêncio, só responde, porque não me responde?..

No terceiro, as horas são mais largas, os dias em carne viva sangram em mim...
O desejo se faz lágrima calada,
Caminho só, em ruas sem marcas, mas cheias de cicatrizes...
A saudade é uma ilha deserta, abandonada, solitária, que ama em silencia sufocante e envenenado ar ...

No quarto, já não sei mais o que faço,
Meu corpo é eco, minha alma grita,
Tento, sem poder, curar o fracasso,
Mas o amor não me visita, mas ele em mim habita, bora tão, tão distante...

No quinto, um suspiro me invade, as lágrimas não suportam a indiferença e as duras palavras...
A dúvida é sombra no meu peito, mas ainda assim, a certeza dói ainda mais...
Será que vivi só de saudade?
Ou será que o amor é um mito perfeito?

No sexto, as palavras se desfazem,
O som do silêncio é mais forte que eu,
Nos olhos, as lembranças não se apagam,
E o coração é um campo vazio, sem céu.

No sétimo, o vazio é mais espesso,
Os dias, longos, como o mar sem fim, não por mim, mas pelo ilimitado escárnio da minha alma que te deseja desesperadamente...
O amor, que era leve, agora é o peso
De um sonho que se perdeu em mim.

No oitavo, o tempo é um golpe certo,
A dor se cala, mas o eco é cruel,
O amor não chegou, ficou perto,
Mas jamais será meu o seu céu.

E ainda que os dias passem e se vão,
Fica o silêncio, ecoando a cada canção, dolorosa e sentinda...
De um amor que nunca foi meu,
Mas que, por oito dias, foi tudo o que eu sou.

Meu Corpo é Campo de Guerra?

Carrego no peito uma história que queima, não está escrita em livros, mas em olhares aqueles que me despem sem tocar, que julgam se eu cruzo...