Em um paraíso onde as flores jamais murcham, o sol jamais deixa de brilhar e o céu se estende em cores imortais, encontrei-me perdido. O ar, que antes era doce como o mel, agora me sufoca com seu perfume inebriante, envenenando-me pelas narinas e sangrando meu coração. O som das águas cristalinas que fluem por rios invisíveis, agora me parece um lamento distante e triste. Como Dante, que caminhava entre o Inferno e o Purgatório, eu me vejo preso em um limbo entre o desejo e a desesperança.
Tu, que eras o anjo resplandecente à minha frente, cuja beleza iluminava todo o meu ser, olhavas-me com olhos que não viam o abismo que se formava em meu peito com a tua rejeição. Neste paraíso, onde os corações devem se unir, o meu encontra-se desfeito, dilacerado, num eterno vazio e solitário limbo. O amor que eu sentia por ti era uma chama que queimava com intensidade, mas o teu olhar, indiferente, não alimentava essa paixão, tornando-a uma dor sem fim, uma condenação que não sei de onde veio, nem para onde vai, mas que faz da minha alma prisioneira das lembranças do teu corpo.
Se o Paraíso é um lugar de êxtase, então este se transformou em minha própria tortura, pois cada passo que dou aqui é marcado pela tua ausência. A brisa suave, que acariciava meu rosto, agora me corta como lâminas de gelo, como se quisesse, a cada suspiro, lembrar-me de que meu amor jamais será correspondido. O azul do céu já não tem a mesma cor, pois ele reflete a tristeza que se alojou em minha alma, a as cores da aurora agora só me lembram constantemente a cada findar do dia, que jamais terei suas mãos sobre as minhas e seus lábios sobre os meus.
Oh, amor não correspondido, que me arrastas como um rio impetuoso, e que me afasta de tudo o que um dia foi belo, entrego-me à dor que me consome. Como Virgílio guiando Dante, eu caminho, mas sem esperança de encontrar a salvação, apenas o reconhecimento de que meu coração estará preso nesse paraíso infernal, eternamente. Aqui, a luz que brilha mais forte é a que queima a alma. Cada suspiro meu ecoa como um grito perdido, que se perde no vento, e que apanha das ondas que se chocam sobre as rochas e que não chega a ser ouvido por aqueles que estão distantes das formas da paixão.
E assim, nesse paraíso onde o amor deveria ser puro, vejo-me no mais profundo abismo, onde o tormento de amar sem ser amado é o meu único companheiro, e eu o abraço e o sufoco.