segunda-feira, 7 de julho de 2025

Sem Abrigo

Nos olhos dela, brilhos gastos,
reflexos de um amor calado,
espera feita em longos rastros,
no tempo frio e maltratado.

Ela o ama, e como ama!
Com alma inteira, sem medida,
mas no calor que a vida chama,
só encontra porta não aberta.

Ele caminha em mundos seus,
distante, cego ao seu quebrar,
e a dor que sobe aos céus azuis
ela engole, sem gritar.

Faltou-lhe o gesto, o braço firme,
a fala mansa, o escudo vão.
Faltou-lhe um homem que confirme
que ela é lar, e não razão.

No peito dela, a flor se fecha,
sem água, sol ou direção,
pois quem deveria ser presença
é sombra, ausência e negação.

Mas mesmo só, não se desfaz 
ela é raiz, é chão, é vento.
E se um dia o amor voltar atrás,
ela já terá virado o tempo.

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