Partiu-se em silêncio, a mãe,
no instante em que pariu o mundo
seu mundo em forma de criança.
Com os olhos ainda cheios de luz,
já via as sombras que viriam.
O leite secou no peito antes da fome
porque a panela exigia fogo,
e o fogo, lenha,
e a lenha, tempo
tempo que ela deu da infância
dos próprios filhos.
Trocar o colo por chão de fábrica,
o ninar por buzinas e relógio,
a canção por cansaço,
foi ser mãe ao contrário:
estar ausente para que o pão estivesse presente.
E há mães que sangram mais que no parto,
quando a violência rasga o cotidiano:
filhos levados por guerras não ditas,
por balas que não têm nome,
por leis que não sabem amar.
Há mães que enterram o berço
para seguir vivas,
fingindo força na hora de cair,
beijando retratos,
recolhendo roupas que nunca mais terão dono.
E há aquelas que viram muralhas,
frente ao monstro que vem de dentro
de casa, das ruas, do Estado
lutando para que os filhos cresçam
mesmo quando elas não podem ficar.
A maternidade, às vezes, é ausência feita sacrifício,
dor com nome e sobrenome,
silêncio que grita em todos os cantos
do corpo e da história.
Mãe não some.
Ela se espalha.
Em pratos cheios, em camas quentes,
em lágrimas escondidas
e lutas não vistas.
Ela não abandona
é arrancada.
E ainda assim, volta.
Sempre volta.
Mesmo que só em memória.
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