sábado, 10 de maio de 2025

Versos de um Rio Que Não Cala

Nas margens do Tocantins, nasceu Aurora,
De palmeiras altas e mãos calejadas,
Onde o vento contava histórias em canções 
Das lavadeiras nas águas encantadas.

O rio era espelho de rostos e sustento,
Era altar, era estrada, era oração,
Ali vivia o tempo do firmamento
Dos que plantavam sonhos com o coração.

Veio o progresso de nome estrangeiro,
Cercou o peixe, calou a canoa,
Alagou as lembranças, tirou o terreiro,
Fez da saudade uma lágrima boa.

Mas o povo, ah, esse povo se refaz,
No barro da luta remodelou a sua história,
Em cada casa verde há vida e paz,
E na dor plantada, há também vitória.

E mulher que pesca, homem que benze,
Menino que corre entre sonhos e poeira,
Na peleotoca o espírito acende,
A memória resiste mesmo nas cachoeiras.

Babaçulândia, flor do cerrado,
Tua alma caminha com os ancestrais,
Negros, índigenas e brancos misturados
Na dança sagrada dos tempos iguais.

Enquanto houver rio, no peito irá pulsar,
Enquanto houver canto no fundo da dor,
Enquanto houver gente disposta a amar,
Tua história será poema de amor 
E suspiros de lembranças boas. 

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