vieste da água como um segredo.
não como um deus
mas como aquilo que os deuses tentam imitar.
teu corpo,
molhado de luz
e silêncio,
falava.
ah, se falava.
era Ogum na espádua.
era Exu nos quadris.
era homem
e era mais.
eu,
tola,
com a boca entreaberta
de assombro e fome,
queria ser vento,
ser areia,
ser o nome que tua pele arrepia.
tuas mãos não pediam licença.
mas sabiam —
onde tocar
e como ficar.
não era só desejo.
não era só ternura.
era o susto de me saber
nua
e protegida.
o mundo aquele mundo com gente,
barcos, areia e ceu
desaparecia.
ficava só tua respiração na minha nuca,
e a promessa de que a eternidade
era ali nos teus braços.
na dobra do teu pescoço.
falavas pouco.
mas teus olhos, sim
diziam poemas sujos e santos.
e eu
ouvinte, amante, oferenda
me abria como flor depois da chuva.
e se me perguntam o que é amor,
eu digo:
é o que acontece
quando um homem negro
vem da água doce
e me chama
sem dizer nada.
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