terça-feira, 27 de maio de 2025

órfãos do Eden

Fomos dados ao paraíso
ventre verde e azul, céu sem grades,
o sopro divino, o fôlego do barro,
alma de luz entre árvores e folhas.
E, ainda assim, sangramos.

Sangra a alma que recorda
um abraço que nunca veio,
um olhar eterno que nos voltou as costas,
silêncio onde um nome ecoava e ainda ecoa.
Fomos moldados à imagem do eterno
e deixados à mercê do tempo.

Mesmo as forças divinas,
generosas e cruéis,
que nos deram o fôlego da vida
num gesto de amor e indiferença,
logo se afastaram 
retiraram-se para o invisível,
e nos deixaram aos cuidados
dos ventos e das raízes,
dos relâmpagos, das cavernas e do solo.

Como se o abandono pudesse ser explicado
pelo verde que cresce sem permissão,
pela água que insiste em correr,
pelo sol que nos aquece e consome.

A grande mãe natureza 
justificativa simbiótica,
herança sagrada e impiedosa 
nos acolhe sem afeto,
nos nutre sem consolo,
nos vê sem nos reconhecer.

E nós, humanos órfãos,
buscamos no divino um lar,
na terra uma mãe,
no amor um alívio
para o corte aberto da consciência.

Pois ser humano é carregar o céu dentro
e não poder habitá-lo.
É caminhar por entre jardins
com o coração exilado.

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