segunda-feira, 5 de maio de 2025

Mãe do Mato, Parteira de Luz

 

Na beira do rio, quando a lua é cheia,

canta a coruja, o vento se alteia,
e lá vem ela, de saia rodada,
a parteira-mãe, de alma encantada.

Tem nos olhos o brilho das estrelas,
nas mãos, rezas antigas — saber de vê-las.
Traz no peito o som do tambor de Ogum,
e o sopro do pajé em silêncio comum.

Mulheres das matas, senhoras do tempo,
sabem os segredos do primeiro alento.
Do ventre da terra, colhe o saber,
com ervas, sussurros e o dom de nascer.

Lá vem Maria, Ana, Umbilina encantado,
com patuá preso ao colo bordado.
Conta histórias do boto e do curupira,
e dança com Iansã quando o céu gira.

No barraco de palha ou no igarapé,
pariu destino com reza e axé.
Na rede embala o futuro da aldeia,
entre o cheiro de andiroba e candeia.

É curandeira, é mãe, é guerreira,
nos dias de dor, ela é luz verdadeira.
Com um canto de ninar ancestral,
rompe o silêncio do mundo real.

Oh mulher do Norte, flor de açucena,
no teu ventre cabe toda a terra amena.
E tu, parteira, entre santos e encantos,
és ponte entre mundos, entre risos e prantos.

Teu saber não vem de livro ou escola,
vem do mato, do tambor e da sacola,
vem da bênção de um tempo sem fim,
onde a vida é o começo, o meio, e não tem fim.

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