Te amo como quem se lança do alto com os olhos abertos sabedora da queda, mas desejosa do abismo. Te amo com os ossos, com a fome ancestral que precede o nome. Tu és o vício que me atravessa sem anestesia. És a droga que me cura e me mata, ao mesmo tempo. Em mim, tua ausência é um veneno lento, uma eucaristia amarga. Engulo tua indiferença como quem bebe álcool puro em carne viva: cada gole um espasmo, uma lembrança de quando a vida era tua boca. O corpo grita e geme, sim, mas é a alma que estilhaça. E ninguém vê.
Fui ficando assim: mulher que sussurra orações entre gemidos, tentando arrancar teu nome das entranhas, enquanto a carne suplica mais daquilo que não tem. Não me olhas. Não me sabes. Passas por mim como um deus surdo, e eu, tua santa obscena, danço sozinha no altar da tua recusa. O gozo que te ofereci, inteiro e místico, virou penitência. Porque te amar, homem, é devorar vidro com sede. É caminhar nua sobre brasas e ainda assim pedir por mais. És minha morfina e minha cruz.
Tudo em mim treme: não de prazer, mas de falta. Porque tua ausência me inunda. Me desflora. Me apodrece devagar. E mesmo assim mesmo assim escrevo-te com febre. Com o que restou depois de te implorar em pensamento até perder o som. Te amo, como quem ama o algoz, como quem beija o punhal antes do golpe. És meu delírio. E eu, tua condenada mais fiel.
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