Abri-me como quem se despe da alma,
não por coragem, mas por esperança.
Há em mim um hábito de pensar demais
e um desassossego quieto, quase menina.
Falei-te não com a boca, mas com o tempo,
com esse silêncio que só os atentos escutam.
Mas tu ouviste o eco e não o verso,
ficaste na margem enquanto as águas lutavam.
O amor, se é que existe, não se prova
ele se oferece, sem garantias ou promessas.
Mas pediste que eu falasse menos do que vivi,
como se o passado tornasse o agora uma peça desnecessária.
Ah, como é fácil julgar o que se revela,
e tão difícil ser inteiro no presente...
A alma humana, como disse o poeta,
é feita de tudo que sente e do que mente e omite.
Não te acuso somos sombras tentando adquirir forma.
Mas quis que soubesses: foste em mim um espaço.
Não um abrigo, mas um reflexo
do que talvez eu mesmo já não alcanço.
E ainda assim, te espero na curva do entendimento,
onde as palavras não ferem, apenas tocam.
Porque amar, no fundo, é isso:
não fugir quando as dores se evocam.
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