Te amo como quem devora
um último pão embebido em ópio.
Sede, fome, vácuo e veneno.
Te amo como quem desce à carne
com a alma em brasa
e o espírito lascado de querer.
Tu, homem-lâmina,
me corta em delírio e não me vê.
Não me sente.
Teu silêncio me é ácido
me arde entre os dentes da alma,
um silício plantado no ventre.
O corpo meu, em febre,
geme teu nome nas madrugadas
como se fosse
o único Deus possível,
e eu, tua devota obscena.
Ah, se soubesses!
O quanto me arrasto em tua ausência
como quem lambe a trilha de um vício,
injetando teu desdém nas veias
até que a pele supure dor
e os olhos vejam miragens de gozo
onde há só pedra e riso teu.
És morfina e punição.
Eu, menina de templo e carne,
que te quis com todos os cantos,
fui ficando sombra, eco,
um torso de desejo
gritando por ti
numa casa onde só moras
para partir.
És meu inferno doce.
E eu te amo, sim,
como quem reza
com a boca cheia de sangue
e ainda assim sorri
porque amar-te
é meu milagre e minha ruína.
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