segunda-feira, 12 de maio de 2025

E se tu me amasses…


E se tu me amasses…

Seríamos como a cachoeira que desce livre,
sem vergonha da queda,
sem medo da entrega.
Teu corpo, meu leito.
Meu toque, tua nascente.
Nos encontraríamos na curva do tempo,
molhados, vivos, intensos.

O amor que te daria não seria leve 
seria selvagem como floresta úmida,
feito calor de verão que gruda na pele
e faz florir até a alma adormecida.

Se tu me amasses,
seríamos dois sóis se incendiando ao entardecer,
num céu que arde de promessas.
Nossos olhos se encontrariam como luas gêmeas,
dançando uma dança milenar,
silenciosa, mas urgente.

Te buscaria com a sede dos desertos,
mas te amaria com a delicadeza da chuva que chega mansa,
molhando a terra e deixando perfume.
Tocar teu rosto seria como mergulhar as mãos
no rio que sempre sonhei:
quente, profundo, sagrado.

Se tu me amasses,
deitaríamos à beira da cachoeira,
corpos colados em sintonia,
minhas mãos te conhecendo como o vento conhece a montanha 
com intimidade ancestral.
E enquanto o som da água embalasse nossa respiração,
te prometeria a eternidade do instante.

Serias meu orvalho e meu fogo.
Te beijaria com o gosto do mundo novo,
te ouviria com o peito em chamas
e faria do teu prazer o meu templo.

Mas tu não me amas…
E esse paraíso mora só em mim.
Vivo nesse sonho com o coração aceso,
mesmo que solitário.

Ainda assim, não odeio a dor.
Abraço-a como quem abraça uma fogueira:
sabendo que queima,
mas também ilumina.

E no calor desse amor não vivido,
transcendo.
Me refaço.
Aprendo a amar o que sou,
a cuidar da chama,
mesmo que ela não aqueça em outro peito.

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