A depressão, em silêncio, entra
como neblina pela fresta da alma
não grita, não anuncia sua presença,
mas se instala, fria, em cada calma.
Ela veste uma mulher de ausência,
desbota seus risos com mãos de sombra,
sussurra mentiras com voz de crença,
e em seu espelho, nenhuma forma.
Leva o brilho dos olhos embora,
torna o toque leve em peso sem fim,
faz do tempo um rio que não escorre,
faz do mundo um lugar que não tem fim.
Os dias perdem cor, sabor, sentido,
e até o amor parece dormir;
cada gesto vira um desafio,
até respirar pode doer e fugir.
Mas mesmo ali, em seu abismo mudo,
há um fio, tênue, quase invisível:
a esperança que mesmo oculta, tudo
permanece, sutil, invencível.
Pois a mulher que carrega a dor nos olhos
também carrega um vulcão adormecido.
E mesmo que a tristeza a cubra em novelos,
há força no fundo do seu silêncio contido.
A depressão não chega como um trovão
vem como garoa, fina, insistente,
molhando os cantos da alma em segredo,
até que tudo dentro fique doente.
Numa mulher, ela se mascara melhor.
Ela sorri no trabalho, penteia os filhos,
manda bom dia no grupo da família,
mas dentro dela há um chão de espinhos. É como se você olhasse um espelho negro que nada reflete, a não ser o vazio do nada...
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