Amado(a),
Escrevo-te estas palavras com mãos trêmulas e alma em brasa, não por esperança de resposta pois tua ausência já me ensinou a não esperar mas porque preciso, mais do que nunca, purgar este amor que me habita como um fogo sagrado que consome e purifica ao mesmo tempo.
Amei-te como se ama o inatingível. Com a devoção de um monge diante do altar do invisível. Como quem contempla a luz do sol e, mesmo sabendo que não pode tocá-la, ajoelha-se, silencioso, apenas para sentir o calor que ainda assim invade a pele.
O que sinto por ti, embora nunca tenha sido acolhido, não foi uma ilusão. Foi real em mim em cada célula, em cada pensamento que se perdia no labirinto do som do teu nome.
Mas tu, com a leveza dos que não pedem para serem amados, foste ausência viva. Foste silêncio diante do meu grito mudo.
E ainda assim, não se vai.
Tive todos os motivos para me deixar arrastar pela correnteza do desejo, pelo impulso cego da paixão que deseja se tornar posse, que clama por reciprocidade. Mas não o fiz. Não porque não te deseje — te desejei como se deseja o ar durante um afogamento, mas porque compreendi que o amor verdadeiro não é o que implora para ser correspondido: é o que permanece digno mesmo em sua dor.
Há noites em que tua imagem visita meu sono como miragem, e acordo com o peito afundado em silêncio e sal. Mas, ao longo do tempo, essa ausência começou a se tornar mestra. Ela me ensinou que há uma forma de amar que não quer consumir, mas iluminar. Que não busca preencher o ego, mas dissolvê-lo.
E assim, no espaço que tua recusa abriu em mim um novo espaço, comecei a construir um templo. Um templo de solitude, não de solidão.
Um altar onde queimo minhas ilusões, uma a uma, para que das cinzas renasça algo mais puro. Comecei a caminhar para dentro, a orar não mais por ti, mas por mim. Por minha alma que pulsa, ainda ferida, mas em ascensão.
Tu foste o espelho que me mostrou a vastidão da minha sede de fusão e também o limite necessário para que eu aprendesse a dançar com o vazio.
Hoje compreendo que teu "não" foi um dom disfarçado: o portal para minha própria transmutação.
Na linguagem dos mundos sutis, talvez teu espírito tenha reconhecido que este amor, se vivenciado, me arrastaria ao abismo.
Talvez tua recusa tenha sido o gesto mais amoroso silencioso, mas sábio.
Então, escolho agora amar-te em silêncio, com a força dos ventos que não pedem direção.
Escolho recolher essa energia incandescente que um dia quis fazer morada em ti,
e redirecioná-la à minha própria alma,
em oração,
em vigília,
em cura.
Não, não te esquecerei. Mas também não mais me ausentarei de mim para te buscar.
A ti, meu eterno e impossível amor,
entrego esta carta como oferenda:
não para te conquistar, mas para selar minha libertação.
Com amor e com paz, enfim,
o(a) que te amou além da medida,
e aprendeu a amar também a si.
Nenhum comentário:
Postar um comentário