Nos salões etéreos onde o tempo dorme,
habita ela feita de luz e eternidade.
Filha do Logos, moldada na forma
do Belo Ideal, da pura Verdade.
Mas o amor, esse enigma sem razão,
não respeita essências nem alturas.
E um dia, a deusa olhou para o chão
e viu, entre sombras, ternura.
Era um homem limitado, finito,
carregando o fardo da carne e da morte.
Tinha falhas, dúvidas, passos aflitos,
mas nos olhos... havia uma insólita sorte.
Ele não sabia de cosmos nem do Uno,
mas sabia ouvir o silêncio do vento.
E ao sorrir, rompia o mundo em sumo,
fazendo dela prisioneira do momento.
Ela, feita para amar o Eterno,
sentiu no efêmero a vertigem e a chama.
O estoico diria: "É ilusão, é externo",
mas o coração dela... o mortal engana.
Não era um herói, nem possuía glória,
mas suas falhas tinham a cor da aurora.
E a deusa, entre o Olimpo e a memória,
desceu da luz e se fez senhora.
Platão sussurrava em sua lembrança:
“O amor é falta, é busca, é ausência.”
E ela, em sua dor, sem esperança,
descobriu no humano... a transcendência.
Mas ele, cego ao fogo que o cercava,
amava-a como se fosse miragem.
Não via que o céu nela chorava,
nem que a eternidade pedia passagem.
E ela, imortal, ajoelhada no chão,
beijou a poeira onde ele passou.
Foi deusa, foi sombra, foi paixão,
e mesmo eterna chorou.
Pois não há dor mais pura ou cruel
do que amar quem jamais entenderá:
que mesmo uma deusa, tocando o céu,
pode cair... se por um mortal se apaixonar.
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