terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Sou o que não sou

Meu amado, com os olhos turvos de desejo,
Sabe que, ao falar em amor,
Não se trata de outro senão de ti,
Teu nome já está gravado na carne do que não se diz nessa geração de loucos e vazios.

A palavra não é mais ponte,
Mas abismo em que me lanço.
Falo de ti, amado, sem saber
Se falarei de ti, ou de mim,
Do que fui, do que sou,
Ou do que não sou e nunca fui.

Eis o grande enigma, Platão já dizia:
O amor não é senão um reflexo daquilo que falta.
É o desejo de um Outro,
Um Outro que me constrói e me esmaga,
O que sou, mas nunca soube ser.

Teu corpo, amado,
É o espelho onde me vejo
E não me vejo,
Aproximando-se e afastando-se
Como a sombra na caverna.
No entanto, sou o que sou porque desejo a tua falta,
Porque sou o que não sou sem teu olhar.

Se Lacan nos ensina que o amor é a busca
Por uma completude que nunca se alcança,
Sabe, amado, que quando te amo,
Falo de ti,
Mas falo de mim, da falta que sou,
Do que não sou, do que nunca terei,
E ainda assim, te chamo, te espero e te quero incessantemente.

Por isso, quando digo que te amo,
Estou, na verdade, a dizer que sou
E que não sou,
Que tu és, mas não és.
Em cada palavra que teço,
É o vazio que falo,
E é o meu amor que nunca me pertence.

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