Mudança é uma palavra que se afasta de nós. Como um corpo que não se entende com o espelho. Ela surge sem que a chamemos, se instala e nos desfaz, sem cuidado. Há uma dor profunda no ato de mudar, uma dor que não dói como outra dor, porque não é clara, não é visível. Ela se arrasta no fundo de nós, como uma sombra que se estica até tocar cada pedaço de nossa alma.
É uma dor que se abre, rasga e depois fecha, mas de um jeito que nunca mais será igual. Como se, de repente, algo estivesse desfeito para sempre, algo que acreditávamos ser eterno. E a cada recomeço, um pedaço de nós fica para trás, e a cada novo passo, uma parte de nós se dissolve.
Mudança é o que acontece enquanto a gente ainda tenta entender o que somos. É o que acontece quando a gente sente que não somos mais os mesmos, e no entanto, continuamos a ser, mas de outro jeito. Como o vento que arrasta as folhas, e as folhas, mesmo mortas, ainda são parte do vento.
E não há como negar que precisamos disso, desse caos que nos reconfigura, que nos obriga a olhar o que antes preferíamos esquecer. Mas, oh, como é difícil olhar. Como é difícil deixar ir. Como é doloroso saber que, no fim, nada se mantém. Mas o que se mantém é a transformação. E é só através dela que podemos, finalmente, ser mais do que somos.
Mudança não é algo que escolhemos. Ela escolhe a gente, e nos força, nos faz, nos reconstitui, como uma tela que, antes branca, já não pode mais ser limpa, já não pode mais voltar atrás.
Mas, no fundo, no fundo mesmo, a mudança é a única maneira de não morrer, a única maneira de continuar. Ela é nossa salvação e nosso abandono, e, ainda assim, sem ela, a vida não seria vida.
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